A Câmara Municipal assinou o contrato de cedência de direito de superfície ao IHRU para que esta entidade do governo construa ali 60 apartamentos dirigidos a famílias que precisem de habitação a custos controlados. E espera-se que durante o ano 2026 os novos residentes ali fiquem a morar a assim caraterizar o perfil urbano da cidade de Freamunde.
Custos & Proveitos
Em si, a medida é justa, necessária e apenas perde por tardia, definindo assim o marco histórico de um executivo camarário ter conseguido, pela primeira vez, completar três mandatos – doze anos de poder – sem ter conseguido construir um único apartamento social. Como explicou o ainda presidente, esta obra – a ser feita e tudo indica que será dado que o IHRU é independente da Câmara – estará pronta em 2026 – depois das próximas eleições locais em setembro de 2025!
O Bom Bairro!
Ao ser construído em Freamunde – perto da urbanização do Carvalhal – deveriam as novas habitações ser dirigidas para famílias já residente nesta cidade. Existem aqui mais do que 60 famílias à procura de habitação a custos controlados e não seria difícil identificá-las e dar-lhes prioridade, diria até exclusividade na escolha para um novo lar.
Neste caso, o ambiente social da freguesia apenas conhecia uma melhoria das condições de habitabilidade, oferecendo aos freamundenses uma oportunidade para subirem na escala social pelo menos nos índices de conforto.
Acresce que esta melhoria para as famílias freamundenses contribuiria para um ambiente social tranquilo num enquadramento de vizinhança conhecida e com história. Enfim, fossem os 60 apartamentos apenas dedicados a freamundenses a cidade ficaria a ganhar sobretudo porque não correria riscos nem desvalçorização do seu ambiente social e económico. Diríamos que estas duas caraterísticas só poderiam melhorar e se isso não acontecesse pelos menos ficaria como está.
O Mau Bairro
As declarações do presidente apontam no entanto para que os 60 apartamentos sejam dirigidos a famílias do “município”, não se conhecendo, minimamente, os critérios de escolha, pressupondo nós – pela legislação – que sejam escolhidas famílias pobres do concelho, provenientes de outras freguesias.
Quer isto dizer que estas famílias eleitas pelo seu baixo rendimento vão viver em Freamunde sem que a cidade e o comércio local tenham a ganhar alguma coisa com isso, antes pelo contrário vão verificar que o rendimento médio da população da cidade vai baixar (são mais 60 famílias pobres que saem de outras freguesias e vêm para Freamunde).
Esta opção parece um elevador social fantasma pois dá a sensação que é um “boa medida” mas de fato não passa de uma escada a descer e onde estas famílias vão tentar subir!
Quer isto dizer que esta opção de abrir os 60 apartamentos a famílias pobres do concelho será boa para elas, mas seria bastante melhor se estas mesmas famílias encontrassem na freguesia onde residem esta solução abandonando a necessidade de “emigrar” para a terra dos capões.
A comparação do movimento social entre freguesias
Todas as decisões políticas têm consequências sociais e económicas. Chama-se a isso “economia política”. Neste âmbito observo que estas decisões afetam grandemente o espectro eleitoral base nas eleições autárquicas, pelo método da transferência de votos condicionados (quem vai escolher as famílias?), mas mais grave do que isso afeta a estrutura social de uma localidade.
Neste particular deveríamos perguntar o que aconteceu nestes três mandatos do PS em sede de mobilidade social. Isto é, para onde foram morar as famílias pobres e para onde optaram ir as ricas e de classe média para morar?
Responder a esta questão é verificar que a decisão política acaba por condicionar as condições económicas das freguesias, altera a sua identidade eleitoral e cria uma competição baseada na desigualdade.
E se dizemos isso, é para sublinhar que esta tendência social, maquinada pelo poder político , tem uma visão estratégica comprovada pelos três mandatos do PS. Duvida? Então olhe para o “eixo-da-decisão” constituído pela estrada que liga Freamunde-Carvalhosa-Paços de Ferreira. O que aconteceu nesta via em sede de alteração política (decisões da câmara), decisão social (movimentação das pessoas) e consequências económicas?
Quem ganhou e perdeu com estas decisões estratégicas comandadas pelo Politburo da Rotunda?
Fiquemo-nos por uma citação do Padre Américo – aquele que fundou a Obra do Gaiato: “Que cada freguesia trate dos seus pobres”!
Por Arnaldo Meireles