O abismo atrai o abismo – uma reflexão de Sérgio Carvalho que considera a falta de consideração do PS para com os professores do concelho tendo como ponto de partida declarações de Paulo Ferreira candidato dos socialistas à Câmara de Paços de Ferreira em finais de 2025.
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Na última assembleia municipal, o vice-presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Paulo Ferreira (Partido Socialista), que é, também, o vereador que detém o pelouro da Educação, após a intervenção de um deputado do Partido Social Democrata, professor por sinal, teceu o comentário de que «os professores vivem à custa do Estado».
Se o comentário viesse de alguém sem formação académica ou numa conversa de balcão ainda se poderia perdoar, mas vinda de alguém que exerce funções públicas, e é pago pelo erário público, teve a oportunidade de ter estudado e concluído o ensino superior é lamentável, reprovável e demostra a sua incapacidade para exercer o pelouro e funções de ocupa.
Sabemos que para o Partido Socialista os professores sempre foram um alvo a abater, bastando recordar os males que os governos de José Sócrates e António Costa fizeram à classe docente e à escola pública. Os seus nefastos ministros Maria de Lurdes Rodrigues e João Costa que tudo fizeram para denegrir os professores, tentar virar os pais contra os docentes e diminuir a sua autoridade e autonomia nas escolas. Graças ao novo governo da Aliança Democrática, os direitos e autoridade estão a ser repostos, como deve ser num Estado de Direito.
Os professores não vivem à custa do Estado
Não, senhor vereador, os professores não vivem à custa do Estado. Recebem o seu salário pelo trabalho que exercem honradamente e com brio profissional. O Ministério da Educação contrata-os para cumprirem um dos direitos fundamentais da nossa Constituição de 1976 que é o direito à educação, sem que o Estado possa intervir filosófica, política ou doutrinalmente nos programas escolares.
Bem sabemos que gostavam que os professores não existissem para que as nossas crianças e jovens não tivessem espírito crítico para questionar a vossa inoperância para deixar dezenas de milhares de alunos sem aulas ao longo do ano letivo que terminou.
O senhor vereador deve, com certeza, muito aos professores, pois para aprender tudo o que sabe das Ciências e das Letras, precisou de dezenas de homens e mulheres que amam a arte de ensinar. E, a maioria dos professores certamente terá mais habilitações literárias que Vossa Excelência, possuindo além da licenciatura, pós-graduações, mestrados, doutoramentos e pós-doutoramentos.
Quem exerce funções públicas, ainda para mais com o pelouro da educação no nosso concelho, não pode tecer afirmações dessas. Deve um pedido de desculpas a todos os professores. Deve reconsiderar a sua atitude diante daqueles homens e mulheres que têm de ser, também, assistentes sociais, psicólogos, terapeutas, tutores, e por aí adiante. Os professores não são carne para canhão, nem para aplaudir as suas visitas, qual Dona Gertrudes Tomás do antigo regime, de corta fitas nas festas dos agrupamentos escolares e nas coletividades.
Quem exerce funções públicas tem o dever de dar o exemplo
O abismo atrai o abismo. Aqueles que exercem funções de maior importância têm o dever de dar o exemplo, pois sem uma educação de qualidade e a mesma não se faz sem professores, tudo pode desmoronar. É por atitudes como essas que os nossos jovens não querem ser professores, pois além de não ser atrativa financeiramente, também já não o é vocacionalmente, pois ninguém está para ser destratado e até agredido verbal ou fisicamente.
E já agora, para não viver às custas do Estado, pois não deve precisar, podia renunciar ao vencimento e doá-lo ao Ministério das Finanças ou criar uma bolsa para que alunos carenciados possam continuar os seus estudos.
Por Sérgio Carvalho
NOTA – Carttoon original in -abismo