O estilo de liderança na Câmara Municipal sempre mereceu reparos, mas a ano e meio de novas eleições o executivo sente a necessidade de se mostrar como nunca aconteceu, dando à evidência que consideram os onze anos passados de poder como manifestamente insuficientes para lhe garantirem novo mandato em 2025. É que o povo já fala, publicamente, como aconteceu nas marchas das festas Sebastianas “homenageando” o lápis azul de marca registada HB!
A ironia do povo
É aqui que começa a derrota de um político, desenhado na matriz de lápis azul, de má memória que afectou a liberdade de imprensa em Portugal durante 40 anos. Mas eis que a criatividade freamundense entendeu ter chegado o momento de plasmar à vista de todos aquilo que apenas os seus mais indefectíveis (dependentes) escondem do líder – o desprezo silencioso pela forma como o chefe único dirige a política no município.
E apesar de o homem – nobre que é – distribuir os ganhos públicos aos que estão abaixo, confronta-se com a multidão anónima que de soslaio e muda o contempla no alto do poder – hoje castelo medieval – e diz: “que rico lápis azul me saíste!”….
Dando seguimento às patranhas do “poder absoluto” o lápis azul HB fez-se acompanhar em Freamunde com todo o seu governo, atrás do pálio paroquial da procissão. Cadência a pé suave, silêncio respeitoso e olhares de soslaio para verem e serem vistos e, aqui e acolá, perceberem algumas palavras pouco aconselhávels num evento religioso.
E é aqui que bate o ponto – apesar da inexistència de complicações institucionais entre as paróquias e o município – coisa que nunca aconteceu na história do concelho – habituou-nos o PSD, por intermédio de Fernando Vasconcelos – primeiro presidente do Município em sede liberdade – a respeitar a separação de poderes entre Estado e Igreja e, à nossa dimensão, entre paróquia e junta de freguesia e eventualmente Câmara Municipal.
Entendia Fernando Vasconcelos – seguindo um consenso que nasceu em 1789, mas isso foi em França!, – que era vantajoso para todos os envolvidos e para as partes interessadas que se respeitasse o princípio de que a actividade de uns e outros deveria ser considerada autónoma no respeitoso dever de garantir a cada um a liberdade de autonomamente gerirem a sua actividade.
Este entendimento é claro em Portugal, na legislação e na prática política embora muita gente não saiba o que é isso de Estado Laico, mas pode ver aqui!
Ora, o sinal dado pelo executivo camarário manifestou um entendimento da gestão política dos eventos públicos muito antiquada e sobretudo perigosa para a qualidade da democracia local que pede o respeito pela separação de poderes. A dimensão da delegação da Câmara mais que sinal de respeito foi assim uma manifestação desadequada de poder que tudo mistura ou tenta misturar desconhecendo os os motivos de tal motivação.
É que estes cenários, na história de Portugal são dramáticos! O antigo regime, aquele a preto e branco mas de “bons costumes”, “aconselhava” todos a estarem presentes nos eventos religiosos,…. e lá estava a câmara presente a vigiar e rezar (pois claro) o bom comportamento do povo!
Mas pior que no antigo regime, ma monarquia, tivemos o mesmo cenário na odiosa inquisição que, graças a Deus, “nunca queimou ninguém sem antes lhe dar a oportunidade de se converter, rezar e pedir perdão a Deus” por, de facto, não seguir as pisadas do rei definidas para cada dos seus servos – fosse povo anónimo, políticos da corte, padres e doutores da Igreja…
E esclareça-se que nunca ninguém foi queimado na fogueira sem antes ser levado em procissão para o calor da sua libertação. E mesmo que estivesse presente padre ou Bispo, só depois da chegada do inquisidor-mor – representando o reino – se podia dar início, não ao suplício e morte mas “à redentora procissão!”
Quem lê curiosidade de história encontra dados sobre a importância e significado das autoridades civis nas procissões religiosas. E verá, facilmente, que misturar estas naturezas dá sempre galo! ou, de outro modo como diriam os nossos antigos: “é chegar lume à estopa”!
Mas foi o que aconteceu em Freamunde, esperando nós que esta experiência – podem crer que foi um teste, a quê não sabemos!- não se repita. É que depois de celebrarmos a liberdade durante 50 dias, conviria não dar sinais contrários à necessária democracia plena que todo merecemos.