HOJE é dia para nos perguntarmos porque é que Jesus se deixou morrer na cruz se dela se podia ter safado: teria bastado mentir ou optar pela verdade conveniente; mas porque motivo maior optou por morrer ali ao lado do olhar da sua mãe, Maria de Nazaré?
Um homem torturado, espancado, despojado de toda a dignidade, ridicularizado pelos seus contemporâneos, e finalmente morto na cruz. Terrível e dramática descrição se não escondesse a verdade que ele queria mostrar, como um raio de sol no meio da densa floresta e que nos indica o caminho.
Hoje, sexta-feira maior, fazemos o caminho da luz que nos indica o sentido a seguir: a verdade que precisamos de conhecer, mostrou-se na cruz – Jesus de Nazaré. Ele como verdadeiro homem e também verdadeiro deus, mostrou-nos que chegada a morte, terminamos o caminho na floresta e partilhamos a luz plena que nos vai revelar o que ainda não sabemos mas queremos conhecer: o encontro com o sagrado que já nos habita mas ainda não conseguimos perceber como gostávamos.
Diz-nos a Igreja que Jesus morreu na cruz, num acto de amor. A Igreja é especialista em enigmas, e ainda por cima, no fim diz-nos que é um mistério! E de facto é, um grande mistério que marca a vida de nós todos, os que têm fé e os que não têm; mas mistério que nos invade nos momentos em que experimentamos a morte na cruz de cada um de nós.
A morte é sempre o momento da verdade. Onde se destrinça “o trigo do jóio”, se a vida valeu ou não a pena, se vivemos ou não plenamente. Mas também é o momento em que começamos a experimentar na alma o que significa a ressurreição: a começar na percepção da boa memória que deixamos nas pessoas de quem nos despedimos.
Os abraços que partilhamos, nos momentos da despedida causada pela morte, são sempre sinceros. Porque são manifestação de uma verdade essencial: são actos de carinho entre pessoas que pertencem a uma tribo ou clube de amigos. E é esta experiência de pertença a algo que nos transcende que nos diz que ninguém morre definitivamente.
A luz do raio de sol que nos tira da escuridão da floresta existe. Ela, além de nos indicar o caminho de saída, convida-nos para um banho de sol que não tem fim.
Boa sexta-feira santa, nesta semana maior.
Por Arnaldo Meireles
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